domingo, 5 de maio de 2013

Suicídio pleno.

Escutando Brian Crain - Dream of Flying


Uma noite sonhei que estava voando...
Foi sentimental e mágico, como a poeira que se levanta na cabana com o fechar de um livro bom, no fim de uma tarde fria de outono, com um sol ineficaz no que diz respeito a esquentar o coração.
O sonho era como estar distante de mim mesmo; eu me via, era o telespectador da minha própria ilusão e o som genial que as árvores e os campos recitavam era de um piano que parecia descrever meus próprios movimentos.
Corria de um lado para o outro neste campo cheio de vida, e meus pés tocavam o solo na mesma intensidade que o vento parecia convidar cada flor, pedaço de mato, planta e árvore a dançar meu compasso original.
Eu era apenas acordes melancólicos. Tudo era tão triste, porém belo, que fez com que meu eu telespectador chorasse convulsivamente ao se lembrar de tudo que só existiu dentro de nós, das crianças que foram desenhadas e destruídas em forma de letras e ideais.
Por toda a minha vida eu esperei por aquele momento e eu sabia que podia voar, que a hora era aquela. Eu só queria transcender, ir além, ir onde nada e nem ninguém pudesse me alcançar, e, de lá do alto, pensar em um jeito doce de morrer para nunca mais ter que pensar em nada, sonhar com nada, esperar por nada... Contudo, dançaria uma última vez, gritaria, pularia e me embriagaria de solidão uma última vez. Queria, por fim, um piano sem tons, tocando apenas o coração do mundo com o silêncio breve da loucura de todo suicida pleno.
E com esse pensamento voei, sem truques de magia, voei apenas porque podia e tinha esperado muito por aquele momento; mas quando estava bem no alto, quase em meu objetivo de anjo, voando tão rápido que podia sentir o vento afogar-se de mim, um campo de força invisível me impediu de continuar e eu fiquei parado, tateando o nada, desesperado.
Só me lembro de pensar que o universo, a lua, Júpiter e Marte, o cometa Halley, o sol e os buracos negros todos, que tudo era mentira, que nunca poderia sair dali.
Que eles mentiram pra mim e que nada nunca foi verdade.
Mas estava em um ponto alto o suficiente para me deixar levar, e quase no fim da minha canção pessoal. Por isso pensei que, mesmo longe da lua, de toda a dança e de toda loucura, eu deveria cair.
Que o fato de não existir nada não seria impedimento para meu último solo.
Me larguei sonhando com o abraço doce e inocente do fim, mas estranhamente nunca consegui que a gravidade me quisesse.
Ela também não me quis, e fiquei pra sempre preso, entre o mundo e o universo, entre o eu telespectador e o eu transcendental  entre a vontade de morrer e a realidade da vida, esperando o toque pleno do fim que nunca viria.
Portanto a música nunca parou, as flores nunca cessaram de dançar a música que meu desespero compôs e eu nunca tive a felicidade de uma queda plena para ficar em paz, enfim.

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