quinta-feira, 27 de setembro de 2012

#18 Amizade



A amizade especial que carrego com este irmão de alma é absurda de tão rica, somos e sempre tivemos qualquer coisa muito preciosa em nossas vivências.
Tê-lo encontrado desde muito pequeno é a prova viva de que algumas coisas simplesmente tem que ser.


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quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Luz

Esses dias eu acordei e a imagem dela me veio a cabeça.
Não era qualquer imagem, era ela, a mesma dos filmes que busco desesperadamente encontrar, das inspirações que encontro de formas tão variadas e intensas nas músicas que ouço; a mesma que me lê histórias de viver e me pede para sair recontando-as por aí.
Ela apareceu por entre um foco desconcertante de luz e me disse qualquer coisa sobre transcender.
Me pediu para morrer novamente e, assumindo sua versão heroína, explicou porque tinha que ser assim.

"  - Porque essas lanternas? - perguntei curioso.
   Ela respirou fundo e buscou se expressar lentamente, como quem não tem pressa, e de fato não tínhamos mesmo para onde ir.
   - Para me defender... Existe um mundo de entrelinhas entre aquilo que se cria e o porque de se criar. Um mundo onde uma lógica incontestável se faz presente e é tão fruto da imaginação de alguém, como somos reféns da física e da química nas coisas. Eu não espero que entenda, quero apenas que me ajude. Eu realmente preciso de ajuda agora.
   - Mas como? Em que eu posso te ajudar?
   Ela andou um pouco, respirou fundo e tentou disfarçar a voz rouca pelo choro de ainda a pouco. O mesmo choro que desafiava a coragem de mulher no corpo frágil da criança.
   - Eu estou esquecendo quem eu sou. Antes eu caminhava por essas ruas, e era tão cheia de certezas. Um dia desses eu acordei e simplesmente não sabia mais nada de mim, quem eu era, porque era, onde estava... Andando por aí, comecei a recolher lixos nas ruas na tentativa de encontrar algum sentido em tudo. Nada aqui é somente lixo, tem essa lógica de que te falo. Sei da arte nas coisas, da música em tudo, mas não ando conseguindo sentir mais nada que não solidão e as vezes sinto o avesso do amor; nesses dias, tenho muito medo do fim.
   - Do que você está falando?
   - Descobre quem eu sou e conta pra mim. Eu conheço aqui como a palma da minha mão, e sei onde está aquilo que está procurando. Eu vi quem pegou...
   - O fim da minha história?
   - Sim, o fim tão perfeito de que fala. Foi um desses lixeiros do lado de cá que levou, e se me ajudar, eu caço ela pra você.
   Tínha um trato com a garota cheia de lanternas e surreal demais, um trato que definiria o rumo da minha jornada.
   - Volto amanhã - disse cheio de esperanças.
   - Se não acordar, te acerto com a luz de novo. Ela não machuca pessoas como você. "

                                                                                                                                   (trecho de "Avesso")

Existe um surrealismo naquilo que proponho como arte, que só faz sentido se eu foco e não perco a luz, jamais.
E quem melhor do que ela para desfilar sobre a escuridão?


Ouvindo: Radiohead - "Exit Music (for a film)"


domingo, 12 de agosto de 2012

Coisas Belas e Sujas

As pessoas crescem e desaparecem.
Nos anulamos nas fórmulas do cotidiano, nas religiões do medo da morte e nas solidões dos momentos em que desejamos ser capaz de sentir qualquer coisa que não angústia por nós mesmos.
Sinceramente eu queria ser capaz de amar, de sentir verdadeiramente amor pelas pessoas, pelo mundo, mas existe um manto que me enobrece perante os fatos da vida na mesma intensidade que me distância de uma suposta fórmula de amar.
Eu sinto amor, por tudo e todos, mas não sou capaz de viver esse sentimento por nada nem por ninguém, preferindo a solidão como companhia perfeita daquilo que me desmente e me desestimula, sendo capaz de me perder em loucuras fáceis de pureza e inocência.
Eu não sou capaz de viver nada intensamente, nada que não minhas histórias e a arte que eu uso como droga para me aproximar delas... me aproximar delas...
Eu só aceito o que é belo, essencialmente emblemático, e por mais que a arte se torne relevante nesse hemisfério de pensamento, o turbilhão de pensamentos tortos, a confusão da mente e principalmente as vozes que gritam e brigam para me definir, vão me transformando no velho amargurado de amanhã; o mesmo que agora senta em sua escrivaninha, a alguns dias do fim, e repensa todas as histórias de luz que poderia ter vivido, mas não conseguiu, porque não quis querer.
Se pelo menos as pessoas fossem essas essências todas, mas nunca o são, sendo frágeis e pequenas em um mistério indecente, quase como um odor tolerável de rosa com carniça.
E o pior é que não consigo me calar, e grito sempre, o mais alto que posso, para estas mesmas pessoas que me confundem os sentidos, que não consigo fazer nada que não falar de mim, para mim, o tempo todo e para elas ouvirem. 
Somos mesmo coisas belas e sujas.


Ouvindo: Bright Eyes "The difference in the Shades"


quinta-feira, 12 de julho de 2012

Intoxicação

Como seriam as pessoas se não estivessem todas com intoxicação alimentar? Seríamos mais felizes se nossos tomates fossem orgânicos?
Eu não sei, mas recentemente li que tudo o que comemos, de um certo modo, ataca nosso sistema nervoso central.
O que me fez pensar: será que alguém é realmente puro naquilo que sente? Quantos de nós somos tão somente razões e sensibilidades induzidas por uma péssima alimentação; ou sentidos e lógicas propostos por um total desmazelo com nossa fisiologia?
Nosso sistema nervoso central está um caco.
Hoje trombei com um cara descendo do ônibus, e ele me olhou com sede de vingança.
Não por menos estava obeso, suava excessivamente debaixo dos braços e respirava com certa dificuldade ao se locomover.
"Deve comer coisas horríveis, salgadinhos industrializados, massa e muita, mas muita carne vermelha, só isso para explicar tamanha frustração no coração" - pensei.
Sei que pessoas de bem quase sempre comem coisas do bem.
Eu não me incluo nessa categoria, eu também sinto ódio as vezes, e em instantes morro de pena da pessoa e  quem odiei, porque odiar é um sentimento forte e não é digno de ovolactovegetarianos.
Não que eu seja um, regredi um bocado, mas gosto de me imaginar alguém rumo a alcunha de domador sensato de meu hipotálamo (se é que isso é possível) e do meu hábito alimentar.
Será que eu já me apaixonei por alguém porque comi mal?
Ou pior, odiei alguém legal porque não estava em pleno gozo de minhas faculdades mentais?
Alguém alguma vez esteve?
Hoje imaginei um mundo onde as pessoas dissessem oi e fossem sinceras ao perguntar se está tudo bem. Que se aproximassem de você e respeitassem sua liberdade em querer ser quem se é, que não achassem tolo aquele que sente necessidade demasiada de falar de si, como eu, ou ingênuo quem prefere se calar e ouvir mais do que dizer.
Que soubessem apreciar a vida sem a pressa induzida de um mundo que nos força a sermos fast-foods até naquilo que imaginamos de bom pra gente.
Enfim, que trombasse com você e risse porque o contato humano, ainda que acidental, é muito legal e faz rir.
Mas com nossos índices cada vez mais altos de colesterol, gorduras vegetais hidrogenadas acabando com nossos sistemas circulatórios, refrigerantes usando e abusando do sódio é difícil acreditar em um futuro melhor para nós e para nossas crianças.
No mais é esperar que não sejamos vítimas de nossos hábitos tortos, da preguiça da alma, das noites de sono mal dormidas, mas principalmente, da falta de água no corpo e dos molhos de tomates industrializados.
Malditos molhos de tomates industrializados!


Ouvindo Bright Eyes - "The First Day of my Life"

E aqui nasce "Sobre Nada"

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Fantasma particular

Pensando bem, o que fez com que me apaixonasse foi a música.
The National sempre faz isso comigo, e não seria a primeira vez que os caras traduziriam meus sentimentos tortos em acordes melancólicos.
O ônibus lotado, um lugar vago na poltrona estrategicamente posicionada, a chuva fina cobrindo tudo como uma neblina, o banho traduzindo em cores o cheiro de roupa limpa e eu me perdendo nas paisagens bucólicas dos dias que não querem acontecer, era o vislumbre mais que necessário do porvir.
Não foi para me tornar o fantasma de ninguém que eu cheguei até onde cheguei, muito menos de uma estranha no ônibus indo para o trabalho; mas isso foi o mais perto que consegui chegar de ficar longe de mim, e por uma semana, fiquei bobo de amor...
Quando me encostei para sentir o piano solar, esqueci minha vista na janela e foquei-a triste, ouvindo qualquer coisa com o coração, cantarolando com os dedos e unhas roídas uma canção de ninguém.
Tão jovem, tão pura...
Sou daqueles que nunca dizem nada, estudam calados os amores, articulam reviravoltas sutis e trocam suas liberdades e desejos do coração, pelos olhares tortos e passageiros dos passageiros, numa esperança cega e inocente, de se cativar pelo abismo.
Mas não foi o caso da garota em questão, a quem decidi tornar o real concreto, e buscar em "ois" singelos, o cale-se doloroso para um coração que anda se cansando de esperar.
É a solidão pregando peças...
Mas o que vi no reflexo do vidro, não foi apenas um reflexo no vidro: foi reflexo da solidão de alma, da busca desesperada por auto-aceitação, o encontro maravilhoso com meu anjo do passado.
Eu vi a pequena de sempre, a mesma que eu achava que havia perdido assombrada pelo sonho americano, a única que, bela e singular,  me acompanhou por incontáveis aventuras madrugadas adentro, ouvindo, sem nunca me julgar por isso, o grito ensurdecedor do meu silêncio.
Ela, e somente ela, eu devo encontrar toda manhã, quando evito o ônibus das 7:54, e troco a realidade sem graça de uma anônima poetiza de imagens refletidas, pelos acordes suaves, de meu fantasma particular.

Ouvindo: The National - "Lucky You"




quarta-feira, 2 de maio de 2012

Pelos amigos que eu tenho, pelos que não tenho e, mais ainda, por aqueles que gostaria de ter...

          Se eu fosse pensar em uma benção, não divina, mas aleatória, uma dessas que a gente acorda um dia e descobre que tem, eu falaria qualquer coisa sobre meus amigos.
          Vivi vários momentos distintos da vida, entre viagens e rotina, e em todos, sem exceção, eu os encontrei, não como troféus a quem almejo bajular com um post de blog, não isso, mas por que eles se tornaram extensões de mim, e porque, com eles, quase sempre vivi momentos turbulentos, divertidos, mas sempre muito, mas muito profundos.
          Eu os separo em categorias e em momentos que vão de triviais e passageiros, até os mais expressivos e marcantes... Mas todos, sem exceção, me são utéis.
          Eu não saiu, não gosto, sou recluso, anti-social mesmo, mas estranhamente eles vêm até mim, mesmo virtualmente, e quando chegam, sejam por quais momentos, eu sempre descubro qualquer coisa sobre mim estando com eles; e sabe do que mais? É quase sempre como se essas coisas tivessem que acontecer. Como páginas de um livro que eu vou lendo devagar, mas que não é sobre eles, é sobre mim sendo sobre eles...
          Eu sei que a maioria das amizades é assim, e as minhas não se diferem, certo? Errado...
          Esses amigos são mesmo especiais, e nossa, como a soma do todo deles é instigante. Nunca é somente um sambista de esquina, rockeiros de plantão, homossexuais cheios de questionamentos, ateus em discórdia, sonhadoras que escrevem bem pra caralho ou professores de faz-de-contas... Acho que parte do meu dom, é percebê-los assim, diferentes, únicos, transcendentais.
          Dá para se acreditar em alma vendo-os divagar.
          Como filmes em uma prateleira, ou livros em uma estante, eu os coleciono e espero jamais perdê-los.
          E para os que eu consigo destravar o meu lacre de segurança, que não envolve somente o ato de pensar, mas principalmente, o porque de se pensar, eu os atraio para o abismo do meu coração, e qual não é a minha surpresa quando cada um deles, sem ao menos exitar, dá a mão para o outro e pula comigo, over and over again...
          Nunca nenhum deles se recusou a pular comigo.
          Já levei a todos para o negro do meu coração, que a nível de essência, os transforma em personagens singelos da vida, e os afoga nas emoções dos livros que ainda vou escrever...
          E para aqueles que ainda almejo, ou que de certo modo ainda farão parte dessa história, espero encontrá-los em breve, porque eu não me canso de esperar que eles cheguem, dando sentido, cor, forma e brilho a tudo.
          Como uma amiga, que ainda não é amiga, me disse ainda a pouco, mesmo sem saber que me disse: "(...) o relevante mesmo é o sentido que procuramos não fazer (...)"
           And that is for sure!


ouvindo: The Bourne Supremacy OST - "Moscow Wind Up"

sábado, 31 de março de 2012

Ateísmo, Agnosticismo, Cristianismo... São mesmo os "ismos" que nos definem?

          
          Eu sou agnóstico, e sim, tenho muito orgulho disso, porque é a minha consciência que encontrou uma resposta na simples concepção do não-questionamento e eu me sinto feliz por ter encontrado o meu ponto de vista... 
          Não gosto de religiões ou da ideia delas. Minha crítica reside no fato do que as pessoas se tornaram: preconceituosas, pequenas em fundamento e mesquinhas, onde muitas vezes o respaldo bíblico fundamentalisa a mente confusa e incita a violência e a discórdia para com os diferentes. E sim, eu me considero diferente, então isso afeta diretamente a mim. 
          Mas o que o ateísmo ou o próprio agnosticismo tem se tornado em âmbito virtual, que não uma evangelização da própria negação de crenças? O que mais criticamos é o que estamos nos tornando: Testemunhas de "Ajeovás" virtuais. 
          A proposta da discussão nasce do respeito pelas crenças do outro e um convite para  conversarmos afim de trocarmos experiências e nos fazermos melhores enquanto seres humanos.
          Eu acredito que religião atrofia a mente, e acredito também que um mundo seria melhor se as pessoas soubessem viver seguindo valores morais e éticos, e negassem SIM o que foi escrito em um livro ultrapassado, o qual considero duvidoso e perfeitamente refutável.
          Mas este sou eu, e eu não tenho o direito de enfiar nada goela abaixo de ninguém, embora também manifeste o meu pensamento, mas procure fazê-lo sempre de formas respeitáveis e nunca com o intuito de mudar a mente ou o pensamento do outro, mas sim de dialogar para entender as diferenças.
          Um mundo sem religiões, segundo a minha concepção de moral, seria muito bom; mas um mundo onde todos pensassem somente como eu, seria um inferno de consciência.


sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Carta de amor...

          Nos meus 16 anos (tudo começou aí), ou um pouco depois, eu me apaixonei por uma garota que, por um motivo qualquer, me deu uma certa atenção especial sobre um determinado assunto. Aconteceu que eu escrevi uma carta pra ela, que hoje, anos depois, me soou hilária, mas com uma conotação inocente que me fez sorrir de orelha a orelha. Eram bons tempos aqueles, onde eu vivia a incerteza de sentimentos plenos não esperando que nada fizesse sentido.       
          Acho que nem preciso dizer que eu NUNCA enviei a carta para ela, acho que funcionava só como desabafo mesmo...
          E para efeito de eu não me sentir um idiota maior (nem sei mais por onde anda a amada em questão) eu vou chamá-la carinhosamente de Fulana...
          Eu escrevi o seguinte:

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          Oi!
          Sabe "Fulana", eu sou muito sozinho, e carente também. Não sou o tipo de pessoa – e a isso eu somo toda uma desestrutura familiar – que está acostumada a perceber que alguém possa nutrir algum tipo de afeto, carinho, ou atenção especial por mim. 
          Sendo assim aconteceu em relação a você o que sempre ocorre comigo quando eu me sinto bem e um pouco amado por alguém... 
          Antes de ir mais a fundo nisso tudo, eu gostaria de pedir pra que você não leve tudo isso muito a sério (até porque eu já vi esse filme antes e, acredite, ele é bem ruim), e que me desculpe se, por algum infortúnio, eu venha a te magoar; mas o fato é que graças àquela nossa conversa do outro dia (lembra aquela sobre o Peter Pan?), a atenção inadvertida que você tem em relação a mim em alguns momentos e principalmente esse seu jeito doce e carismático de ser; eu me apaixonei pra valer. Sim, eu posso dizer que hoje eu estou apaixonado por você, como já estive por tantas outras garotas em tantas outras ocasiões tão ou quase tão especiais como essa...  Mas o fato é que é pra valer.
          Já me bastou um oi, um sorriso (que nem sabia ao certo se era pra mim), um questionamento do tipo qual o meu nome, ou mesmo um "jóia" e pronto, um ano de análise... Com alguns amigos, é claro. 
          Mas não se preocupe, eu sou bem capaz de assassinar este sentimento em mim. Basta algumas boas músicas antes de dormir e um pensamento massivo em histórias e personagens meus, que tudo volta ao normal (eu juro!) e toda essa desestabilidade fica mais estável e por conseguinte aceitável também.
          No pior dos cenários, você vira um personagem em algum conto e eu acabo por te matar, em uma metáfora clara do assassinato do sentimento que eu sinto por você.
          Não é o que eu quero, nunca é, mas é o que precisa ser feito...
          Eu não sou bom com sentimentos e, desculpe a sinceridade, você não parece ser o tipo de garota que olha um garoto com problemas emocionais e diz: “Opa, esse é pra mim”. 
          Mas esse é o fato: Eu, hoje, estou apaixonado por você, tende a durar pouco, mas aconteceu, e antes de eu colocar em prática o meu lado serial killer de sentimentos, eu gostaria mesmo que você soubesse disso, para saber que é especial e que como eu pode ter alguém te espreitando em pensamentos. 
          Pronto, não foi assim tão difícil, no mínimo você deve estar pensando: “como esse cara exagera as coisas”, “ que cara estranho”, ou com sorte “QUE LINDO!”, mas esse é o caso e eu só queria que você soubesse logo disso. 
          Devo dizer que o melhor em uma confissão escrita é não precisar olhar para o rosto da amada, isso realmente é bem reconfortante, e no meu caso em especial MUITO reconfortante, porque existe a possibilidade que depois de você ler isso eu nunca mais te olhe nos olhos; enfim... 
          Terminei, agora pode falar... 

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#euri

sábado, 14 de janeiro de 2012

Vacilo


                Eu sinto os desatinos da alma inquieta, da incerteza dos dias de solidão que me faziam alguém perante os outros. Sinto a angustia de constatar os erros sobre os erros, mas uma vontade certa de ter na alma qualquer coisa de incerto.
                Sinto falta daquela solidão da madrugada, do abandono escancarado nos aeroportos e nas estações de trem, da luz vacilante dos supermercados de ninguém, do vento frio e do medo constante das previsões do tempo.
                Seria tudo um vacilo?
                Estou eu apenas em processo de exorcismo de caráter?
                Eu fumava os cigarros da tarde e pertencia a noite, me expressava e valia-me de retrato cada vez que encontrava os olhos daquilo que sempre busquei. Não era feliz, sempre soube disso, mas sentia a intensidade de querer viver plenamente.
                E eu acho que vivia.
                Agora eu decido ficar na pátria amada e não pareço querer me alimentar de nenhuma história, busco e espero cair na armadilha certa da estabilidade ilusória dos momentos de paz comprados sempre a força.
                Rumo para a armadilha das minhas ações racionalmente irracionais.
                A questão é, não nos vendemos todos, sempre? Não somos todos - e sempre -  filhos do desatino daquilo que acreditamos?
                Eu quis voltar, quis reecontrar tudo, buscar a origem, mas não sei se quero pertencer a ela. Talvez queira somente, e tão somente, os meses de descanso antes do retorno a confusão de alma, os transtornos de pensamento, a tristeza da realidade a que pertencem as minhas histórias.
                Sou caótico, exemplo vivo da bagunça de alma, da controvérsia do espírito, da colheita de emoções pagãs. No meu mundo não existe lugar para a estabilidade, para o que é organizado e colorido.
                Ando querendo temer estar certo de não pertencer a nada.
                Ando querendo me perder na virtude desses pensamentos de caos e trevas.
                Por hora vou continuar buscando não ser bem sucedido em nada, que é para poder tirar um ano para mim, e se no contexto geral dos dias de paz que poderão triunfar sobre o caos eu não me redimir, é porque pertenço a noite e aprendi de vez a lição.
                Vou-me se for para ir-me, mas em todo caso, fico, por hora e de agora em diante, até!