sábado, 14 de janeiro de 2012

Vacilo


                Eu sinto os desatinos da alma inquieta, da incerteza dos dias de solidão que me faziam alguém perante os outros. Sinto a angustia de constatar os erros sobre os erros, mas uma vontade certa de ter na alma qualquer coisa de incerto.
                Sinto falta daquela solidão da madrugada, do abandono escancarado nos aeroportos e nas estações de trem, da luz vacilante dos supermercados de ninguém, do vento frio e do medo constante das previsões do tempo.
                Seria tudo um vacilo?
                Estou eu apenas em processo de exorcismo de caráter?
                Eu fumava os cigarros da tarde e pertencia a noite, me expressava e valia-me de retrato cada vez que encontrava os olhos daquilo que sempre busquei. Não era feliz, sempre soube disso, mas sentia a intensidade de querer viver plenamente.
                E eu acho que vivia.
                Agora eu decido ficar na pátria amada e não pareço querer me alimentar de nenhuma história, busco e espero cair na armadilha certa da estabilidade ilusória dos momentos de paz comprados sempre a força.
                Rumo para a armadilha das minhas ações racionalmente irracionais.
                A questão é, não nos vendemos todos, sempre? Não somos todos - e sempre -  filhos do desatino daquilo que acreditamos?
                Eu quis voltar, quis reecontrar tudo, buscar a origem, mas não sei se quero pertencer a ela. Talvez queira somente, e tão somente, os meses de descanso antes do retorno a confusão de alma, os transtornos de pensamento, a tristeza da realidade a que pertencem as minhas histórias.
                Sou caótico, exemplo vivo da bagunça de alma, da controvérsia do espírito, da colheita de emoções pagãs. No meu mundo não existe lugar para a estabilidade, para o que é organizado e colorido.
                Ando querendo temer estar certo de não pertencer a nada.
                Ando querendo me perder na virtude desses pensamentos de caos e trevas.
                Por hora vou continuar buscando não ser bem sucedido em nada, que é para poder tirar um ano para mim, e se no contexto geral dos dias de paz que poderão triunfar sobre o caos eu não me redimir, é porque pertenço a noite e aprendi de vez a lição.
                Vou-me se for para ir-me, mas em todo caso, fico, por hora e de agora em diante, até!