domingo, 8 de dezembro de 2013

O grito...

Tudo esta gritando tão alto e eu temo tanto pelo meu fim.
As pessoas choram suas derrotas e suas angustias, mas também choram seus sonhos e suas conquistas sempre e na mesma intensidade.
O que há para se fazer que não chorar?
Seguimos por um caminho trágico, nos amputando sempre, frágeis e inconsequentes, enquanto esperamos por um fim que nos redima.
Mas ele nunca vem.
Nos ensinam que ideais são para os fracos, e eu, tão fraco, me canso sempre muito rapidamente de interpretar um papel ditado pela sociedade e me recuso a fazer parte de um mundo fechado em si cheio de pompas capitalistas e de péssimo gosto.
"Meus heróis morreram de overdose, meus inimigos estão no poder" e nada muda isso, tampouco nossa boa vontade... Arrisco dizer que sobretudo ela.
Sou uma aberração, um caminho produzido em grama verde que leva para um casarão rústico e de beleza revigorante, mas sem uma mobília sequer, cheio de tristeza e solidão.
Sou como pés descalços a um dia inteiro na areia, sujos, queimados, mas ainda sim cheios de uma estranha vontade de viver.
Este contorno produz arte, e se você acredita em propósitos, ficará muito incomodado em perceber a vida se impondo sobre você, te calando na forma de pessoas que você não sabe se ama ou odeia.
Por isso grito.
E enquanto tiver voz, eu me farei ouvir, mesmo que para poucos, com muitos me achando um idiota prepotente, ou um ignorante perspicaz.

Ouvindo: The National - Slipping Husband

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

A queda da criança

"Ela se atirou tão loucamente pelas nuvens que a faziam fria, porém estranhamente desperta de todo o mau que ousava nascer de dentro de seu cântico inocente, que nem por um momento pensou no fato de que não sabia voar.
Mas ela não caia sozinha, a seu lado todos a quem ela ajudou a mutilar os sentidos caíam com ela e por ela, dezenas e centenas de vezes mais rápidos, unicamente porque nasceram afim de representá-la na imensidão vazia de uma última queda.
Ela soube enlouquecer a todos com sua voz rouca e seu olhar cristalino, soube cantar a desgraça de cada um dos presentes no teatro mágico, os quais não esperaram pelo fim de suas vidas e quiseram antecipar a viagem final.
A queda parecia ser a liberdade em sua forma mais plena e isso a anestesiou do desespero do porvir.
Enquanto se esquecia de sua frágil vida, imaginou por instantes como seria seu fim ideal; se se apagaria no instante do impacto profundo de seu corpo contra o solo, ou se cairia para sempre, uma queda pela outra, um infinito de gravidade para nada.
Pelo que se soube, todos a quem ela enlouqueceu foram eficientes em caírem primeiro, se chocando rápidos e seguros, compondo arte em se desfazerem como energias puras que eram.
Foram tantos suicídios plenos, tantos encontros de matérias, que o solo logo se encheu de mortos, e uma cama de paz e serenidade banhada em sangue se fez lírica e plena esperando o pouso forçado da criança que não conseguia morrer.
Ao emergir da cama de maldição, loucura e sobretudo odor pútrido, ela sorriu vermelha, e não teve uma criatura da noite que não comemorou a alegria de salvar-lhe a vida... de morrer por ela uma vez mais."

(Trecho de "Por Toda a Eternidade")

ouvindo: Ludovico Einaudi - Nuvole Bianche

domingo, 1 de dezembro de 2013

Brainstorm de um domingo a noite...

Do casulo ao externo, tudo segue uma trajetória atípica e retilínea.
É atípico porque ser sempre a exceção de uma maldita regra é cansativo...
É belo, porém inquietante. Gosto de pensar em transcendental.
Sempre fui destes que  buscam as essências das coisas. E sim, é maldição e benção enxergá-las, sempre e em todos os momentos.
Há quem repara sua busca pelo centro em pequenos fragmentos cotidianos essencialmente perfeitos.
Sou destes.
O entendimento sobre aquilo que eu deveria buscar começou aos 16 anos na beleza lírica de um amor.
As vezes enxergo os dilemas e a poesia dos meus dezesseis anos em outros adolescentes de dezesseis anos e me sinto tanto em seus olhares e atenções que é quase como se sentisse por eles.
São sentimentos tortos, canções e cartas de amor...
Gostava de chegar em casa nas quartas-feiras a noite e fumar com a janela do quarto aberta, sozinho, fitando a lua e sua imensidão perfeita, no rádio Chico ou Caetano, relembrando, escrevendo e dirigindo as cenas com as quais minha rotina estava sendo composta.
Fazia planos e estudava os takes. O cinema e a literatura sempre me foram úteis.
As soundtracks mais do que darem o tom, se debruçavam sobre meus conteúdos e narravam o antes e o depois em tons documentais tão apaixonadamente contemplativos, que me lembro de perder horas tentando prever o que aconteceria comigo, como se eu já estivesse escrito.
As vezes acho que todos estamos.
Aquestão fundamental do centro e da busca pelo mesmo, se dá na origem de nossas emoções.
Se estamos bem, estamos no centro. Se estamos mal, olhamos com calma e entendemos se estamos a direita ou a esquerda do que somos e pelo que sentimos.
Sobretudo para quem somos.

escutando: No Clear Mind - Alone and Together

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Trens...

(pensamento redigido em meu celular em uma de minhas tantas viagens cotidianas nestes transportes públicos da vida)

Eu juro que se eu pudesse eu tirava fotos das pessoas do trem. Eu encontro gente de todos os tipos e é sempre tão fascinante!
Tem os "leitores-assíduos", seres que se compenetram tão facilmente em suas leituras que não percebem caras e bocas. Eu sei direitinho quando a passagem do livro de um destes é medonha, quando é engraçada ou quando é trágica. Tem uma aqui na minha frente que meio que se abraçou, e outro dia posso jurar que uma ficou um minuto e meio em silêncio e saiu de luto na baldeação de Francisco Morato.
Vale ressaltar que uma vertente comum deste grupo, são os "ouvintes-assíduos" ou os "escutadores de música", eles são tão complexos, que prometo, qualquer dia desses, um post só sobre eles.
Voltando aos básicos, temos também os "encaradores de olhares", pessoas que te olham olhar para outras pessoas. O difícil é que eu nunca consigo saber se é fascínio ou se é libido o que esse povo tanto olha e procura. Eu me considero um "encarador de olhar" discreto do tipo não libidinoso, mas nem todos são, tem gente que a graça está em te deixar sem jeito, te encarando desconfortavelmente.
E tem também as "estátuas vivas", sempre divertidíssimas! Pessoas que não mudam suas expressões durante toda a viagem, e se o fazem soa repentino, todo mundo assusta.
É o máximo do máximo do máximo se apaixonar no trem...
Eu dificilmente puxo conversa com alguém, porque se o fizesse ia querer facebook e tudo o mais e eu não quero correr o risco de ser mal interpretado.

Ouvindo Electric Wave Bureau - Colours

sábado, 26 de outubro de 2013

O centro

O centro de qualquer ser reside exatamente no ponto para onde se volta quando se está descansado e desarmado.
Não existem surpresas quando regressamos ao centro de nossa emoção. É onde gostamos de estar, mesmo que isso resulte em magoarmos pessoas ou anularmos convencionalidades, o que retorna te retoma e não adianta lutar contra isso.
Questão de essência.
Tenha uma boa noite de sono e dialogue com a pessoa que vai acordar, preguiçosa e desajeitada, dentro de você. Ela te dirá muitas coisas acerca da vida e do que você chama de rotina. Além do que, ela é excelente companhia para monólogos, filmes e música.
Racionalizando sobre isso, já atormentado desde meus 16 anos, dei um nome para meu centro, e um nome para meus dois hemisférios, esquerdo e direito. Não me perguntem qual lado é exato e qual é humano, mas o Mike é esquerdo e é mau, um lobo de olhos brancos, triste e revoltado, mas não porque o deseja ser, mas simplesmente porque o é, e não o levem a mal, ele sofre com isso. O centro fica a cargo do Tommy (por causa dos Power Rangers, eu adorava o Tommy) e ele é sábio tanto para domar, escutar o lamento e prender a fera Mike quanto para consolar e brincar com o direito, a sempre enigmática Aninha, que é uma criança personificada em inocência, ternura, melancolia e beleza, tão lírica, que todos meus livros começam com ela, a têm, e terminam com ela.
Tommy, Aninha e Mike. Eles estão comigo e me são diariamente.
E você, quem acorda com você diariamente e te mostra os prazeres da melancolia?
O Tommy que escreveu isso.

Ouvindo  Belle and Sebastian - Little Lou, Ugly Jack, Prophet John

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Nós, os estranhos...

Hoje no trem fui tomado por uma angústia maravilhosa, da qual não abro mão, e me tornei sensível a todos os tipos de som. Abri a mente e meu coração fez-me repousar a visão em pontos específico de um mapa imaginário que corria pela janela do trem e tudo se transformou em uma bela cena de cinema, onde a sombra colorindo a todos os insensíveis a minha volta era a fotografia perfeita e pessoas conversando ao meu lado a mise-en-scène que faltava.
Enfim, pessoas que ouvem "This Will Destroy You" pelos motivos certos e entendem de que geração Thom Yorke é voz, estas nunca aprendem, e estão maravilhosamente amaldiçoadas pela tristeza lírica que é ser o eu se é em um mundo onde as pessoas estão sempre muito ocupadas sendo perfeitas e fazendo sentido, sempre!
Como Amanda Palmer no clássico "Delilah" - we schizos never learn...
Não é que as vezes eu não queira escrever nada, ou não encontre nada que valha a pena ser escrito, é que meu eu artístico se tornou a sublimação de um caos interno, mas atualmente este meu mundo caótico e imaginário se encontra suspenso, já a alguns dias hibernando devido a alegria de dias bons.
Quando uma pessoa nasce para a discórdia, dias de alegria tendem a ser cansativos e as vezes até evitados; algo como um sol que ofusca os olhos e a mente também. Pessoas sorrindo se tornam datadas e falsas, unhas ruídas são exemplares, pessoas introspectivas em transportes públicos apaixonantes e a tradução para um dia de descobertas geralmente é um filme bom e a solidão maravilhosa que é se deixar ser encontrado por ele. Nada de parques, shoppings ou lugares onde pessoas se amam as avessas.
Todos gostamos de dias de alegria, mas eu sei exatamente para onde vou voltar quando toda essa novidade acabar e eu estou ansioso por isso.
Me aguarde Aninha, pois estou voltando.

Ouvindo The Dresden Dolls - Delilah


domingo, 14 de julho de 2013

O algo marcante

Falo de obsessão.
Quer fazer algo digno? Quer compor sua obra, seja ela qual for, pela ótica de qualquer genialidade? Primeiro dialogue consigo mesmo.
Ache sua obsessão, mas não seja mesquinho em procurar mesmice no tema, obsessão é segredo, obsessão é angustia de carne, força de projeção, é medo e devaneio, é surdez de alma e cegueira de espírito, isso é obsessão.
Se tiver uma, traga-a para perto de si e sirva-a com a melhor coberta da casa, aqueça-a e proteja-a, torne seu melhor amigo e aprenda com ela, deixe-a falar, gritar e se ela quiser te machucar, permita-a. É luxuria acreditar que da sua brutalidade mais íntima, nada lhe marcará à face, ou mesmo o sangue.
Suje-se do prazer pecaminoso de aceitá-la por alguns minutos, cubra-se de vergonha e fique nú perante as suas razões.
Não lute mais, tampouco a mande embora, somente feche os olhos e copie o que está sendo dito, berrado e regurgitado em um caderno de notas. Faça-o, mas faça devagar, sem pressa, arte leva tempo.
O processo todo pode se passar em uma noite, mas acredite, levarão-se dias para ter a coragem de escrever tudo sem alterar uma vírgula e tantos outros dias até conseguir mostrar isso para alguém.
Afinal você estará ali desenhado, frágil e tão nú como quando veio ao mundo.
Ela irá te descrever todo, rir da sua cara e te molestar...
Depois assuma uma postura diante dos seus segredos, assuma que os tem e transforme-se...
Suicide-se em seguida.
Depois vá para a escola, para o trabalho, pegue o trem ou o ônibus, seja feliz ou triste, sorria ou chore, faça o que tenha que fazer, vá para o inferno se for preciso, nada mais importa.
Você transformou o seu algo em algo marcante e foi aniquilado no processo. Nada nunca será como antes.

Ouvindo: Francois De Roubaix - Electropolis 





quinta-feira, 30 de maio de 2013

Café preto e amargo

Hoje no terminal, um pouco depois de descer do trem, já em Jundiaí, um senhor, aparentemente responsável, calvo e de mochilas surradas nas costas, me aborda com educação e me pede, não dinheiro, tampouco comida, apenas que pague pra ele uma passagem de ônibus.
Eu não hesito e me prontifico a ajudá-lo.
A tempos não sentia compaixão e me pareceu curioso que, em dois momentos distintos de um mesmo dia, estranhos causassem em mim sentimentos tão nobres.
O primeiro fora pela manhã, no percurso Franco da Rocha/Mairiporã, subindo no ônibus. Atrás de mim, um homem, na casa de seus 32 anos, pediu uma carona para o motorista que, dando de ombros, desdenhou-o fazendo que não com a cabeça. Sentei em meu lugar querendo muito ajudá-lo, olhei-o por diversas vezes na intenção efetiva de fazê-lo (algo me dizia para pagar a passagem para ele), mas eu também o ignorei e com isto meus sentidos se foram juntamente com o ônibus que seguiu em direção ao destino de sempre. Em poucos minutos perdi o trabalhador de vista e, baixando a cabeça em sinal vazio de respeito e remorso me afoguei no fone de ouvido jurando esquecê-lo.
Horas depois, este segundo senhor, desta vez se dirigindo a minha pessoa, me pede passagem. Achei por bem ajudá-lo.
Acontece que seu destino ali seria apenas até a rodoviária, ele morava em campinas e a passagem de ônibus urbano seria apenas o primeiro desafio de muitos que ele enfrentaria no caminho de volta para casa.
No longo percurso que separou os 100 metros que caminhamos juntos até a catraca de acesso e depois rumo a nossos pontos, ele lembrou meu pai em diversos momentos, minha história e minha família em tantos outros. Ele era chefe de família, veio para Jundiaí a procura de emprego, calculou mal seu saque e dos quinze reais que trouxe consigo, quatorze foram para chegar até o local da entrevista, e um fora para o café mais preto e mais amargo da sua vida (como ele mesmo se referiu).
Nos separamos em nossos pontos e nos despedimos. Para o homem eu já era de fato um bom samaritano, mas ele não podia sequer imaginar o que se passava comigo.
Não por mim, talvez pela filha de dezesseis anos que ele disse que tinha, ou pela mulher que deveria estar preocupada, talvez pelo homem de manhã que eu e o motorista desdenhamos, ou por todos os terços que meu pai rezou nos anos que a vida lhe obrigou o desemprego e o desespero, corri até sua parada e, aguardando alguns minutos de longe, tentei decifrá-lo para com isso decifrar o que se desmoronava dentro de mim quando, sozinho no ponto, sem mais ousar desdenhar nada e nem ninguém, eu o abordei com uma nota de vinte e pedi, tão somente, que voltasse pra casa.
Afinal também eu precisava voltar para a minha.

domingo, 26 de maio de 2013

O lirismo da maldade

Tenho destas questões de alma:
Acredito que pessoas que tenham grande potencial para a bondade são as mesmas com grande e inigualável potencial para a maldade. Afinal de contas, quem disse que somos todos fábricas de um mesmo ideal?
Nada é somente bom ou somente mal, tudo passa por um apanhado de inclinações filosóficas que realmente nos moldam e nos caracterizam heróis e vilões de nosso próprio tempo; e eu não me refiro somente à dualidades em questões de humanidade - isso é trivial e bem sabido - me refiro a certeza que, de certo modo peculiar, pessoas muito boas precisam ser temidas, pois carregam dentro de si um limite quase transcendental em capacidades de não se importarem, de não darem a mínima, bem como, pessoas originalmente más, podem - e devem - ser capazes de feitos verdadeiramente altruístas.
Sou terrivelmente grato pelo bocado escuridão que me faz tatear em vão uma trilha de trevas. Afinal a este devo toda minha revolta com assuntos do coração, meu foda-se religioso e agnóstico, minhas loucas buscas por salvação, mas sobretudo, devo a este demônio particular, todas as minhas descobertas artísticas e minha tentativa, por hora nula, de pleitear imortalidade.
Acho que todos devíamos flertar com nossa histeria, conversar com nossas insanidades, sandices e temperamentos tortos afim de vomitarmos com sabedoria nossos sentidos igualmente tortos, na busca utópica de um lirismo pleno nessa maldade toda.
Eu sinceramente não sei porque tantos temem este contato. Temer a solidão destes momentos é negar um sentido vital, mesmo que em vão, para o fato de porque estamos aqui.
Mas não me entendam mal com todo este teor malicioso. Com este post não defendo atos de violência como formas premeditadas de prejudicar um próximo; não acredito que somos todos psicopatas que aprendemos a nos importar... não! O conceito de maldade aqui expresso, é metafórico e intencionado à reflexão. Penso que a maldade, assim como a loucura e mesmo a bondade, quando natural em jovens mentes pensantes, é um processo válido, um canal digno de busca por repouso e resposta.
Portanto rogo, com pulmões cheios de ar e rebeldia, que ousemos nos sentir tentados, e para pessoas verdadeiramente boas, ou o triste oposto desta perdição, que adentrem o outro lado, mas que o façam com cautela, pois os caminhos a serem trilhados por aqueles que compreendem demais apenas um lado da condição humana são imprevisíveis.
Mas para quem realmente quer chegar a algum lugar e não ser apenas um amontoado de achismos, sugiro esta revisão de conceitos, pois no ódio, na rebeldia e no cale-se moral se escondem páginas nunca dantes lidas de verdades nunca antes exploradas.


ouvindo: Dresden Dolls "Half Jack"


domingo, 19 de maio de 2013

Avesso, a questão fundamental da inspiração.

Atualmente estou flertando com duas obras. Meu segundo e terceiro livros parecem ser completamente distintos entre si, embora tenham em suas pequenas protagonistas todo um embasamento moral que em muito se correspondem.
"Lili" é de uma magia envolvente. Mesmo negro em concepção e melancólico em análise, este traz consigo uma inocência que triunfa sob o título. A Aninha desta obra é encantadora o que torna tudo leve e fantasticamente real e palatável, chegando quase a se escrever sozinho.
Já em "Avesso", livro este que traz uma abstração pouco convincente do poder a inspiração, o mundo e as questões são subjetivas demais, metafóricas demais, chegando mesmo as vias de incomodar.
E aí reside meu bloqueio.
Estou entre a genialidade do novo e o fracasso do efeito tardio de algo que possa nunca se consolidar. Claro que este medo é aterrorizante, mas também meu coração o é.
A Aninha desta obra é uma heroína de sonhos, feito das inspirações que ela causa nos moradores da pequena cidade de que ela é avessa.
Este mundo em si é atípico, escuro e os seres que ali habitam são hostis e a primeira vista vazios, como os sonhos rápidos das noites de exaustão e pouca plenitude; contudo, a questão central que liga os dois personagens, a Aninha e o garoto que a percebe inspiradora, é uma questão profundamente fundamental em todos nós: O que conecta inspiração e artista?
Quem redige quem e como?
Me sinto pleno diante da singularidade do livro em lidar com as questões do artista que quer somente entender a forma daquilo que aspira, ao mesmo tempo que me sinto imaturo por não conseguir colocar em palavras - e em eventos fictícios - o quanto este questionamento é importante para mim e para o garoto que não sabe sequer porque idealiza as coisas que idealiza.
Como o pequeno colóquio que a máscara redige no prólogo da obra que segue:

"Não entendemos o pedido de socorro e o desespero de nossas inspirações que gritam e gritam, embora insistamos em escreve-las mudas, tampouco somos capazes de imaginar que portal ou circunstâncias nos dariam respostas convincentes e acesso aos avesso de nossos corações. Só o que podemos esperar é que a arte seja eficiente em nos dar algum sinal sobre o que vai  morrer de sede em breve, e pior, diante de nós, de mãos estendidas a um centímetro da fonte de água pura e cristalina. "

E é por isso que preciso refletir, refletir e refletir; a solidão nessas horas me faz companhia.


ouvindo: Ozzy Osbourne "Dreamer"


domingo, 5 de maio de 2013

Suicídio pleno.

Escutando Brian Crain - Dream of Flying


Uma noite sonhei que estava voando...
Foi sentimental e mágico, como a poeira que se levanta na cabana com o fechar de um livro bom, no fim de uma tarde fria de outono, com um sol ineficaz no que diz respeito a esquentar o coração.
O sonho era como estar distante de mim mesmo; eu me via, era o telespectador da minha própria ilusão e o som genial que as árvores e os campos recitavam era de um piano que parecia descrever meus próprios movimentos.
Corria de um lado para o outro neste campo cheio de vida, e meus pés tocavam o solo na mesma intensidade que o vento parecia convidar cada flor, pedaço de mato, planta e árvore a dançar meu compasso original.
Eu era apenas acordes melancólicos. Tudo era tão triste, porém belo, que fez com que meu eu telespectador chorasse convulsivamente ao se lembrar de tudo que só existiu dentro de nós, das crianças que foram desenhadas e destruídas em forma de letras e ideais.
Por toda a minha vida eu esperei por aquele momento e eu sabia que podia voar, que a hora era aquela. Eu só queria transcender, ir além, ir onde nada e nem ninguém pudesse me alcançar, e, de lá do alto, pensar em um jeito doce de morrer para nunca mais ter que pensar em nada, sonhar com nada, esperar por nada... Contudo, dançaria uma última vez, gritaria, pularia e me embriagaria de solidão uma última vez. Queria, por fim, um piano sem tons, tocando apenas o coração do mundo com o silêncio breve da loucura de todo suicida pleno.
E com esse pensamento voei, sem truques de magia, voei apenas porque podia e tinha esperado muito por aquele momento; mas quando estava bem no alto, quase em meu objetivo de anjo, voando tão rápido que podia sentir o vento afogar-se de mim, um campo de força invisível me impediu de continuar e eu fiquei parado, tateando o nada, desesperado.
Só me lembro de pensar que o universo, a lua, Júpiter e Marte, o cometa Halley, o sol e os buracos negros todos, que tudo era mentira, que nunca poderia sair dali.
Que eles mentiram pra mim e que nada nunca foi verdade.
Mas estava em um ponto alto o suficiente para me deixar levar, e quase no fim da minha canção pessoal. Por isso pensei que, mesmo longe da lua, de toda a dança e de toda loucura, eu deveria cair.
Que o fato de não existir nada não seria impedimento para meu último solo.
Me larguei sonhando com o abraço doce e inocente do fim, mas estranhamente nunca consegui que a gravidade me quisesse.
Ela também não me quis, e fiquei pra sempre preso, entre o mundo e o universo, entre o eu telespectador e o eu transcendental  entre a vontade de morrer e a realidade da vida, esperando o toque pleno do fim que nunca viria.
Portanto a música nunca parou, as flores nunca cessaram de dançar a música que meu desespero compôs e eu nunca tive a felicidade de uma queda plena para ficar em paz, enfim.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Small Talks...

Estava reparando em minha rotina e percebi que meus dias já não são mais tão significativos como  costumavam ser.
Eu adorava as questões filosóficas que se abriam diante de mim, as escolhas que me obrigavam a repensar meus capítulos reais, ou como histórias iam e viam diante de mim, me pedindo para escrevê-las; vivia sórdidas realidades enquanto esperava insights e epifanias.
Era quase como um prêmio por ser tão tolerante com tudo o que me rodeava.
Agora vivo outras buscas. Passo a maior parte do meu tempo em conduções - trens e afins - e leio Herman Hesse, José Saramago e Clarice Lispector para buscar as verdades que uma realidade pequeno burguesa não pode mais me oferecer.
Mas o fascínio ainda existe e é nas pequenas conversas que percebo que figurantes e farsantes podem ter extremo apelo emocional.
E aqui faço um adendo e ouso me parabenizar pela criatividade em levar as "small talks" a níveis nunca dantes exploradas.
Trabalhar em um banco me coloca em contato com pessoas, e entre um e outro atendimento, como em um trem, entre uma e outra estação, pessoas vem e vão, e muitas vezes - obviamente mais no banco do que em um transporte coletivo - me sinto obrigado a me apresentar, espiar fragmentos de SMS, de conversas alheias, alguma tentativa frustrada em flertar pelo silêncio, ou tentar ver o que as pessoas estão lendo e em que página estão em seus livros e verdades pessoais (não me canso de desvendar as afetuosas e frustradas dos "Tons de cores monocromáticas").
Sou dotado na maestria de fazer perguntas triviais e esperar profundidade nas respostas. E acredite, elas vêem.
Existe magia em encontrar uma pessoa da qual não comungamos nenhuma ideologia e apenas deixá-la se expressar por alguns minutos, sem muito contato visual que é para não deixá-la animada, fadada a monólogos, e esperar que ela denuncie sua essência para você.
Conheci, de velhas namoradeiras a pessoas formidavelmente bizarras, e todas, sem exceção, em algum momento, olham para você, e se neste momento você olhar de volta, se concentrando pra valer, descobre-se até mesmo o que elas pensam sobre Deus.
Minha nova empreitada é causar o horror das entrelinhas, sentando do lado de velhas crentes portando suas verdades em versículos e "esquecer", por alguns minutos - e à vista - meu exemplar de "Deus um delírio" de Richard Dawkins. Quero muito vê-las horrorizadas.
Mas nem tudo são flores e eu lido com os "sem alma" - pessoas as quais detesto. Existe atualmente uma necessidade quase desumana em se comprar amendoins e chicletes nos ônibus, e os celulares estão cada vez mais modernos e mal utilizados pelos funkeiros.
Contudo, minha estratégia em encontrar alguém para decifrar, me leva cada vez mais para fora de mim, e minha busca por encontrar sentido em tudo, afirma os figurantes e os promove a coadjuvantes de minhas idas e vindas do trabalho.
Qualquer dia desses encontro alguém verdadeiramente interessante. E daí, talvez, até ouse me aproximar.

ouvindo REM - "Losing my Religion"