domingo, 19 de maio de 2013

Avesso, a questão fundamental da inspiração.

Atualmente estou flertando com duas obras. Meu segundo e terceiro livros parecem ser completamente distintos entre si, embora tenham em suas pequenas protagonistas todo um embasamento moral que em muito se correspondem.
"Lili" é de uma magia envolvente. Mesmo negro em concepção e melancólico em análise, este traz consigo uma inocência que triunfa sob o título. A Aninha desta obra é encantadora o que torna tudo leve e fantasticamente real e palatável, chegando quase a se escrever sozinho.
Já em "Avesso", livro este que traz uma abstração pouco convincente do poder a inspiração, o mundo e as questões são subjetivas demais, metafóricas demais, chegando mesmo as vias de incomodar.
E aí reside meu bloqueio.
Estou entre a genialidade do novo e o fracasso do efeito tardio de algo que possa nunca se consolidar. Claro que este medo é aterrorizante, mas também meu coração o é.
A Aninha desta obra é uma heroína de sonhos, feito das inspirações que ela causa nos moradores da pequena cidade de que ela é avessa.
Este mundo em si é atípico, escuro e os seres que ali habitam são hostis e a primeira vista vazios, como os sonhos rápidos das noites de exaustão e pouca plenitude; contudo, a questão central que liga os dois personagens, a Aninha e o garoto que a percebe inspiradora, é uma questão profundamente fundamental em todos nós: O que conecta inspiração e artista?
Quem redige quem e como?
Me sinto pleno diante da singularidade do livro em lidar com as questões do artista que quer somente entender a forma daquilo que aspira, ao mesmo tempo que me sinto imaturo por não conseguir colocar em palavras - e em eventos fictícios - o quanto este questionamento é importante para mim e para o garoto que não sabe sequer porque idealiza as coisas que idealiza.
Como o pequeno colóquio que a máscara redige no prólogo da obra que segue:

"Não entendemos o pedido de socorro e o desespero de nossas inspirações que gritam e gritam, embora insistamos em escreve-las mudas, tampouco somos capazes de imaginar que portal ou circunstâncias nos dariam respostas convincentes e acesso aos avesso de nossos corações. Só o que podemos esperar é que a arte seja eficiente em nos dar algum sinal sobre o que vai  morrer de sede em breve, e pior, diante de nós, de mãos estendidas a um centímetro da fonte de água pura e cristalina. "

E é por isso que preciso refletir, refletir e refletir; a solidão nessas horas me faz companhia.


ouvindo: Ozzy Osbourne "Dreamer"


3 comentários:

  1. Lembro de ter te falado sobre esse livro uma vez, mas agora é uma ordem: leia "O Ator Errante", de Yoshi Oida, e dance com ele.

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  2. Quanto de nossa obra nao esta intrinsicamente ligado ao que nos queremos ser (ou ter!)? Em que ponto o autor nao vira personagem e o personagem se tornar o autor?

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