quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Tratado...

               O que de fato eu tinha que entender com essa minha vinda aos Estados Unidos da américa? Mais precisamente, com essa suposta ruptura à zona de conforto cheia de gomas de mascar, energéticos, cigarros e chocolates caros?
                Estou perdendo a capacidade de me expressar, me perdendo no terror psicológico do dia de amanhã, e – mais ainda – me tornando o que sei não ser o importante e certo.
                Me diga nobre amigo, você acredita que em algum momento, na vida daqueles que realmente podem fazer alguma diferença, aparece a necessidade de ruptura fria e definitiva com aquilo que sabemos não importar?  Você acredita que as almas livres podem ser de fato livres e maiores do que suas obsessões, avarezas, famílias, medos e inseguranças?
                Desde quando me perdi dentro de mim e enxerguei minha vida como uma negação de propósitos, sejam eles familiares, sejam eles extensões de mim mesmo, eu recebi a oferta de me mudar para a califórnia como o marco zero de um novo começo.
                Neste propósito abandonei minha família e vim me perder longe deles redescobrindo a saudade, o medo, a insegurança, o cansaço e a avareza como fortes traços de uma personalidade tão perturbada que já não cabia mais em mim, já estava me sufocando, e de fato perecer a isso seria natural e subsequente.
                E pelo firme propósito de extender o que não era geográfico, e sim inerente a minha personalidade, redescobri o aqui e o agora de outrora já tão manjado que o marco zero de um novo começo, era – tão só e simplemente – mudanças de ares, personagens e histórias...
                Nunca fora minha casa o problema, minha mãe estranha e cansativa, minha família torta, mas minha, não... Tampouco meu quarto de dormir, meu emprego tolo e fútil, minha ocupação broxante e sem lógica, minha energia e juventude tirada de mim... Não, meu problema sempre foi o que eu decidi fazer com a minha vida. Ninguém nunca percebeu o quanto sofria, porque na lógica capitalista sempre fiz o certo, mas até quando, me pergunto?
                Até quando vou seguir trabalhando para ninguém, negando lugares e pessoas que me darão algum sentido? Até quando vou me perder em histórias paralelas que não as minhas? Gastrites e dores de cabeça sem importância?
                Porque mesmo sabendo que estou morrendo a cada dia, mais e mais, eu sigo lutando por uma eternidade que não é a lógica?
                Não amo e nem vivo intensamente, me perco em sites bancários, penso no amanhã, e como tarda o amanhã. Jogo video-games e vejo filmes como única forma de prazer pleno, e assisto a videologs como que buscando uma nostalgia que vale a pena ser buscada.
                Seria a perda de meu último emprego (como podem vegetarianos serem tão perversos e mesquinhos? Como posso eu me tornar um deles?), a luz a me iluminar? Seria essas linhas tortas do destino, as que me ensinariam a lógica do meu sistema, mesma lógica essa que inevitavelmente viria a mim caso o marco do novo começo não alsace voo. Seria uma inesquecível amiga, o anjo a cumprir com suas palavras, quando a mesma disse que me ensinaria propósitos mais firmes e válidos na vida do que o dinheiro que possuímos, ou o que sonhamos possuir com o nosso dinheiro?
                Pelo sim ou pelo não, hoje entendi a vida e o perigoso jogo que é viver, aprendi a gerenciar os capítulos certos, e principalmente a não adiar o amanhã, buscando sempre o hoje.
                Ninguém precisa mais de mim agora do que eu mesmo, e por isso vou redescobrir o mundo, e seguir o firme propósito de um novo começo...
                Contando a partir de hoje, vou buscar a vida como forma de sonhar, e nas noites encontrar o sentido para o dia.
                Preciso reencontrar aqueles olhos, fazer valer as minhas histórias, que nada mais são do que resumos de mim mesmo, ainda um rascunho, um projeto, que precisa valer a pena ser escrito...
                Hoje fui encontrar dentro de Dostoievsky uma antiga carta que uma inesquecível amiga me escreveu. A oito anos atrás eu sentia tudo com tanta intensidade que não encontrava palavras para descrever o que sentia, hoje que as encontrei, já não sinto mais nada...
                Por essa carta e por nada mais, preciso reecontrar o que perdi, traçar o novo capítulo da minha vida, e fechar de uma vez por todas esse livro tedioso que se tornou o hoje.
                Por essa carta preciso me redimir comigo, e buscar o que acredito ser o certo. Ter em um trabalho apenas uma segurança necessaria, e nunca mais deixar nada e nem ninguém ficar entre o que a arte e a vida me ensinaram a contemplar...

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