sexta-feira, 12 de abril de 2013

Small Talks...

Estava reparando em minha rotina e percebi que meus dias já não são mais tão significativos como  costumavam ser.
Eu adorava as questões filosóficas que se abriam diante de mim, as escolhas que me obrigavam a repensar meus capítulos reais, ou como histórias iam e viam diante de mim, me pedindo para escrevê-las; vivia sórdidas realidades enquanto esperava insights e epifanias.
Era quase como um prêmio por ser tão tolerante com tudo o que me rodeava.
Agora vivo outras buscas. Passo a maior parte do meu tempo em conduções - trens e afins - e leio Herman Hesse, José Saramago e Clarice Lispector para buscar as verdades que uma realidade pequeno burguesa não pode mais me oferecer.
Mas o fascínio ainda existe e é nas pequenas conversas que percebo que figurantes e farsantes podem ter extremo apelo emocional.
E aqui faço um adendo e ouso me parabenizar pela criatividade em levar as "small talks" a níveis nunca dantes exploradas.
Trabalhar em um banco me coloca em contato com pessoas, e entre um e outro atendimento, como em um trem, entre uma e outra estação, pessoas vem e vão, e muitas vezes - obviamente mais no banco do que em um transporte coletivo - me sinto obrigado a me apresentar, espiar fragmentos de SMS, de conversas alheias, alguma tentativa frustrada em flertar pelo silêncio, ou tentar ver o que as pessoas estão lendo e em que página estão em seus livros e verdades pessoais (não me canso de desvendar as afetuosas e frustradas dos "Tons de cores monocromáticas").
Sou dotado na maestria de fazer perguntas triviais e esperar profundidade nas respostas. E acredite, elas vêem.
Existe magia em encontrar uma pessoa da qual não comungamos nenhuma ideologia e apenas deixá-la se expressar por alguns minutos, sem muito contato visual que é para não deixá-la animada, fadada a monólogos, e esperar que ela denuncie sua essência para você.
Conheci, de velhas namoradeiras a pessoas formidavelmente bizarras, e todas, sem exceção, em algum momento, olham para você, e se neste momento você olhar de volta, se concentrando pra valer, descobre-se até mesmo o que elas pensam sobre Deus.
Minha nova empreitada é causar o horror das entrelinhas, sentando do lado de velhas crentes portando suas verdades em versículos e "esquecer", por alguns minutos - e à vista - meu exemplar de "Deus um delírio" de Richard Dawkins. Quero muito vê-las horrorizadas.
Mas nem tudo são flores e eu lido com os "sem alma" - pessoas as quais detesto. Existe atualmente uma necessidade quase desumana em se comprar amendoins e chicletes nos ônibus, e os celulares estão cada vez mais modernos e mal utilizados pelos funkeiros.
Contudo, minha estratégia em encontrar alguém para decifrar, me leva cada vez mais para fora de mim, e minha busca por encontrar sentido em tudo, afirma os figurantes e os promove a coadjuvantes de minhas idas e vindas do trabalho.
Qualquer dia desses encontro alguém verdadeiramente interessante. E daí, talvez, até ouse me aproximar.

ouvindo REM - "Losing my Religion"


3 comentários:

  1. É ESSA ETERNA BUSCA QUE TE FAZ ESPECIAL E ÚNICO NUM MUNDO CHEIO DE INTERROGAÇÕES E EXPLICAÇÕES RASAS.............
    CONTINUE A BUSCAR.........
    BJO NO CORAÇÃO
    LIDIA MARA

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  2. Nossa Stenio, vc se supera cada vez mais!

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  3. Já sentia falta dos seus textos, rs.
    Desejo-lhe boa sorte para encontrar pessoas dispostas a ser decifradas. Aquelas que não passam a vida alisando uma touch screen, sabe?

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