terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Medo Apenas...

Existe uma coisa, que desde muito pequeno, me moldou e se definiu como meu maior medo e dilema de vida. Não é nada que não seja medo e dilema para todas as outras pessoas que amam seus pais, como eu os meus. 
Hoje eu quase perdi meu pai, meu herói, meu ídolo... Que aterrorizante foi se entregar em pensamentos de solidão, em frente a esse mesmo computador, de mãos atadas, assistindo minha tia me contar o que ninguém teve coragem de me dizer, e que sobrou pra ela fazer de maneira tão melancólica, chorando pela idéia de me ver chorar.
Desde as onze horas de ontem ele estava infartado. Com o coração fraco, confundindo as dores abdominais e queimações com diagnósticos simplistas e mesquinhos, se anulando na esperança de anti-ácidos efervescentes, copos de água vázios e leites gelados do tipo B... 
Meu Deus, ele quase ousou fazer isso comigo.
Depois de quase morrer sozinho nos corredores de um consultório que limpava de madrugada e de experimentar as dores e as ardências de um coração que de tão fraco convidava o vômito para aliviar-se de martírio, o meu pai decidiu procurar ajuda, e depois de choros, multas de trânsito, alguns sinais de lealdade e uma ponte de safena, ele se sai bem, e ainda brinca de se testar na mesa de uma UTI nos Estados Unidos da América.
Foi um dia complicado por lá. Teve uma ambulância cruzando a quinta avenida com as sirenes ligadas fazendo as luzes da cidade insignificantes por alguns segundo, teve uma irmã sendo punida por um guarda de trânsito que não entendia uma palavra do que ela gritava na rua, mas parou para ouvi-la e recuou quando entendeu o desespero de filha, teve também mãe deixando diferenças de lado, para se unir pela causa maior da vida: a morte, ou o medo dela.
E por aqui teve apenas alguém que suava muito as mãos, olhava no relógio de um em um minuto, e que pensava em rezar, pedir para que nada acontecesse nunca, escolhendo palavras vazias para se expressar para um Deus, não se conformando em ser apenas um ator coadjuvante.
O dia 6 de dezembro poderia ter sido um dia cruel. Poderia ter sido o pior dia da minha vida, um dia de choros convulsivos, de loucura disfarçada de lágrima, mas não, hoje foi só o susto, a certeza de que filho nenhum jamais estará preparado para esse momento, a triste sabedoria de como é ruim estar longe e ver gente que a gente ama com um coração desamparado.


Para quem ousar apreciar: "Naquela Mesa" de Sérgio Bittencourt para Jacob do Bandolinho. 
Pela prece dessa música demorar ainda bastante tempo para fazer sentido pra mim:



2 comentários:

  1. É difícil e eu sei, pois também já passei por isso. Não com meus pais, mas com uma querida tia - que infelizmente faleceu - há muitos anos atrás. Ela equivalia pelos dois. Eu não estava preparado. Nunca estamos preparados para a morte por mais que saibamos que ela é inevitável. Mas eu não tinha maturidade para receber esse tapa tão forte que a vida me deu. Por mais que eu queria estar perto dela, não poderia. Naquela noite metade de mim estava quebrada. Enfim, desejo melhora não só para seu pai, mas também para você. Entendo perfeitamente o que a distância pode causar dentro de nós nesses momentos.
    Abraço.

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  2. Graças a Deus deu tudo certo, brother... realmente não estamos e jamais estaremos preparados para dar adeus às pessoas que mais amamos no mundo. Este tipo de golpe nos deixa totalmente dominados .. o mundo nos joga na cara o quão somos miseráveis e vulneráveis às sensações de perda... que não há coragem que encare, não há força humana que resista... mas sorria, Irmão, porque não foi hoje, não foi esse dia... [Eder Oliveira]

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