terça-feira, 15 de março de 2011

Aconteceu...

Post relacionado com o vlog "Encontros e Desencontros" do canal Terceiros Fragmentos


Aconteceu de eu ir embora da Califórnia dia 10/03 último e dos Estados Unidos um dia depois, em um inquietante 11/03, não por menos um número que costuma reger minha vida com base em princípios básicos bem pessoais.
A despedida da califórnia trouxe tristeza e incerteza para o meu coração, não pelo fim de algo que poderia ter sido e que não foi, mas por, uma vez mais, me separar do meu pai, nesta que já se tornou minha trajetória pela vida em busca de me encontrar em mim mesmo, na arte que busco e principalmente no sistema que insiste em conspirar conta minha essência.
Mas meus fatos não falavam por mim quando eu decidi levar a idéia da ruptura definitiva com os Estados Unidos a sério, e digo isso fazendo menção ao fato de que o fazia, sem o consentimento de minha mãe, cujo relacionamento tinha se desgastado a ponto de enfrentarmos 5 meses de um não contato que me gelava a alma.
Sempre fui da máxima: Quer que a sua vida vá para a frente? Comece organizando as coisas a sua volta... Mas mesmo eu me fiz hipócrita neste conceito ao perder a amizade e o respeito da minha mãe. Não me coloco como culpado aqui, tampouco vítima, acho apenas que as coisas aconteceram porque era inevitável não acontecer e eu sinto muito por isso...
Mas aconteceu. Deixei o meu amado pai para trás e isso me causou um considerável número de lágrimas no aeroporto, e até um chek-in humano por parte da atendente que se comoveu em ver um marmanjo se acabando daquele jeito quase a ponto de molhar a camisa e se desfigurar por inteiro...
Mas como tudo, acabou, meu pai voltou para casa e desta vez sozinho (é isso o que mais me entristece a alma, ele sozinho lá e eu sozinho aqui... Porque diabos nós não podemos ficar sozinhos, juntos?)
O vôo originalmente marcado para às 11:45 teve um atraso recorde... Foram 6 horas de um chá de cadeira ninja, mais uma hora e meia de vôo por cima do aeroporto JFK pelo fato do piloto não ter permissão para aterrisar, tudo isso somado às 4 horas e meia padrão de viagem, totalisando inacreditáveis 11 horas de uma viagem que quando muito se faz em 5. 
Some isso a uma conexão perdida, uma mala extraviada, uma estadia - tudo inclusa - no chão do aeroporto, do lado da única tomada que tinha, carregando o meu cel, enquanto esperava dar 4 horas da manhã para abrir o guiche da companhia para eu remarcar a passagem; e você terá uma idéia do pesadelo que foi a madrugada de quinta para sexta...
(Vale ressaltar que acompanhei de perto a trajédia no japão, nesta mesma madrugada, enquanto ia contando quantos vôos iam sendo cancelados para Tóquio).
Mas levei tudo de boa, sabia que não faria mais conexão na Polônia e que por isso teria que encarar a idéia de adiar o meu sonho de pisar no mesmo solo que o Kieslowski pisou... Mas até aí tudo bem.
O que mais me incomodou, foi o que instantes depois pareceu ser a revelação de uma lógica incontestável do destino: O vôo que eu fui remarcado saia, estranhamente, às 5:30 da tarde daquele mesmo dia, e o que eu ia ficar fazendo em New York, lugar onde tinha vivido a maioria dos meus dias de escravidão americana, onde tentava conviver com a idéia de sair sem me despedir das poucas, porém inesquecíveis, personalidades que tão bem fizeram parte da minha história ao longo dos últimos 3 anos?
Pois logo entendi: eu tinha até o por-do-sol para reviver a magia de Mount Vernon, uma última vez, ajeitar as coisas com a minha mãe e, de quebra, comer uma última vez o pão de queijo do Nei.
E assim eu fiz. Cuidei dos detalhes da minha mala extraviada, liguei para o meu primo as 4:30 da manhã, o tirei da cama para ele vir me buscar no aeroporto, e tudo começou a se transformar, no que seria uma triste e cansativa viagem, em uma jornada de um dia em busca de reconciliação, despedidas, provas de amor e de carinho por partes de todos que aprendi a amar.
Desde o restaurante que trabalhei por longos dois anos, e os amigos dali, até uma passada rápida na casa do Hugo e da Érika, grandes fragmentos, tudo em companhia do meu primo Flávio, eu me diverti, ri e me emocionei incontáveis vezes... 
Nossa, como todos ali gostam de mim, e como ser querido assim faz bem pra alma da gente... Até meu antigo chefe quase se desfez em lágrimas quando me entregou seu e-mail me fazendo prometer que iria escrever sempre contando as novidades, mandando fotos e com isso treinando o meu inglês.
Mas foi ao momento mais delicado que eu guardei boa parte do pouco tempo que dispunha. Fui ver minha mãe. Me despedi uma última vez do meu querido primo Flávio, que desde o começo esteve comigo em quase todos os detalhes desta minha jornada pessoal, aguentando o meu mau humor, quando este se fez irresistível, e me pus a bater na porta da casa da minha mãe, às 9:45 da manhã, esperando e rezando para ser bem recebido.
Qual não foi a minha surpresa ao constatar uma mãe cheia daqueles cremes faciais, e perdida em lágrimas me abraçando e me abençoando, levantando às mãos em prece, agradecendo por me ver antes de ir embora.
Chorei muito cara, precisava disso... Filho tem que estar bem com mãe e pai, e isso é uma regra básica da vida... 
Conversamos, rimos, saímos, tomamos café juntos, fomos no trabalho da minha outra irmã para eu me despedir, voltamos ao restaurante de outrora para comermos, ganhei uma refeição e um último Monster por conta da casa, e depois de muito procrastinar, corremos para o aeroporto, onde acertamos os detalhes da mala extraviada, fizemos um último check-in e nos perdermos em lágrimas uma úlitma vez. 
Foi bom despir por completo a imagem de horas atrás de um rapaz sozinho em um aeroporto, de frente para o portão de desembarque 14A, que, ironicamente, a três anos atrás, me acolhia em solo americano.
Era melhor assim, com lágrimas de check-in humano...
E aí sim, o vôo para a Itália se fez calmo, com a alma lavada, dormindo como nunca dormi em um vôo, o sono dos sem turbulência.
Uma pena três anos de Estados Unidos terem tantos altos e baixos, mas de certo modo eu sou grato a terra do tio Sam. Me preparou como ninguém para a dura realidade dos fatos da vida, e na última hora me concedeu uma última tarde com todos, isso mesmo, todos os meus amigos, porque todos apareceram ali, seja por coincidências, sejam por ligações feitas escondidinhas, seja por obrigação, eu dei um abraço em todo mundo, e isso me fez muito bem.
E agora sim eu estou pronto...
Que venha a Europa e as cenas dos próximos capítulos, =)

5 comentários:

  1. Nossa, cara, esse foi um grande post, serio mesmo, fiquei emocionado em ler esses acontecimentos, coisa que só vejo em série, e o melhor, com final feliz. Parabéns por dar esse passo, por sair da zona de conforto e por dar esse salto de fé rumo a seus objtivos. Boa sorte em sua jornada, cara, e não suma da rede, hehe

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  2. Nossa, suas palavras dão um show e tanto. Dá até para transformá-las em cenas de filme usando a imaginação! Espero que na Europa você tenha muita sorte e que continue esse seu "filme" com novos capítulos emocionantes hehe

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  3. O grande barato da vida está mais na própria busca do que propriamente no achado. Estou aqui torcendo por você. Mas olha, não se renda a solidão!

    Abração!

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  4. A sempre o grande Stênio, sábio, cuidadoso com as palavras... Sabe que eu fiquei algumas horas para parar de chorar depois de ler seu comentário, nem sou qualificado para escrever algo a altura, porém nem seria possível expressar essa relação de amizade distante, mas mesmo assim tão próxima... Seus obstáculos, dificuldades, sofrimentos, tudo isso só te fez mais forte, sabe isso está de definindo te moldando em um ser melhor a cada segundo. Queria ter sua coragem, sua persistência em lutar pelos seus desejos, pelos seus objetivos, mas fico feliz em ver que pelo menos uma pessoa, dotada de grande sabedoria e força de vontade consegue transpor as barreiras invisíveis e visíveis e partir para as conquistas...
    Não tenho como deixar mais do que meu desejo de vitória para você que acima de tudo já é um grande campeão... Abraço!

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  5. O que me faz feliz é ler que enfim vc chegou a uma comunhão com sua mãe. Era preciso, eu sei tão bem disso que por mais que ame minha mãe e meu único filho real, não consigo manter boas relações com eles. Sempre são tensas, angustiantes, cheias de cobranças, lembranças ruins que deveriam ser esquecidas mas continuam vivas e sangrando abundantemente.
    Quando vc disse: Filho tem que estar bem com mãe e pai, e isso é uma regra básica da vida... , me tocou de uma forma profunda, dolorida, latejante.Minha depressão é inaceitável para ambos, motivo de chacota, falta de respeito com a minha dor e meu modo de atualmente estar vendo tudo em preto e branco...
    Mas como tudo tem uma salvação tenho meu PAI, meu eixo, exemplo de vida, de agregação entre as pessoas, de paz, de solitariamente sem tocar no assunto sentir a minha dor, respeitar o meu limite, estar ao meu lado em todas as horas em que precisei e preciso, de sentir mesmo sem perguntar.
    Ahhh deixa pra lá...estou de TPM e isso me deixa mais sensível ainda.
    Só espero poder um dia te dar um grande abraço real. Amo vc meu filhote virtual. Vc supre o que falta no meu filho real.
    Bjossssssssss

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