Eu sinto os desatinos da alma inquieta, da incerteza dos
dias de solidão que me faziam alguém perante os outros. Sinto a angustia de
constatar os erros sobre os erros, mas uma vontade certa de ter na alma
qualquer coisa de incerto.
Sinto
falta daquela solidão da madrugada, do abandono escancarado nos aeroportos e
nas estações de trem, da luz vacilante dos supermercados de ninguém, do vento
frio e do medo constante das previsões do tempo.
Seria
tudo um vacilo?
Estou
eu apenas em processo de exorcismo de caráter?
Eu
fumava os cigarros da tarde e pertencia a noite, me expressava e valia-me de
retrato cada vez que encontrava os olhos daquilo que sempre busquei. Não era
feliz, sempre soube disso, mas sentia a intensidade de querer viver plenamente.
E eu
acho que vivia.
Agora
eu decido ficar na pátria amada e não pareço querer me alimentar de nenhuma
história, busco e espero cair na armadilha certa da estabilidade ilusória dos
momentos de paz comprados sempre a força.
Rumo
para a armadilha das minhas ações racionalmente irracionais.
A
questão é, não nos vendemos todos, sempre? Não somos todos - e sempre - filhos do desatino daquilo que acreditamos?
Eu quis
voltar, quis reecontrar tudo, buscar a origem, mas não sei se quero pertencer a
ela. Talvez queira somente, e tão somente, os meses de descanso antes do
retorno a confusão de alma, os transtornos de pensamento, a tristeza da
realidade a que pertencem as minhas histórias.
Sou
caótico, exemplo vivo da bagunça de alma, da controvérsia do espírito, da
colheita de emoções pagãs. No meu mundo não existe lugar para a estabilidade,
para o que é organizado e colorido.
Ando
querendo temer estar certo de não pertencer a nada.
Ando
querendo me perder na virtude desses pensamentos de caos e trevas.
Por
hora vou continuar buscando não ser bem sucedido em nada, que é para poder
tirar um ano para mim, e se no contexto geral dos dias de paz que poderão
triunfar sobre o caos eu não me redimir, é porque pertenço a noite e aprendi de
vez a lição.
Vou-me
se for para ir-me, mas em todo caso, fico, por hora e de agora em diante, até!