Não pensem que sair pelo mundo é algo maravilhoso. Pode fazer um mal danado para pessoas como eu.
Hoje eu não sou nem mesmo a sombra do que eu era a quatro
anos atrás, quando ainda estava frio, e eu relaxava deitado na cama que faziam
minha, em minha cidade natal, com os fones de ouvido a me inpirar em Radiohead –
que começava a fazer um sentido pleno para mim – ou Marisa Monte – a quem já tinha aprendido a admirar de outros
carnavais – com todo, ou pelo menos boa parte do tempo do mundo, doado, de
graça, só para mim e para mais ninguém.
Eu era um projeto, ainda mais inexpressivo do que sou hoje,
no auge dos meus vinte e um para vinte e dois anos, com o mundo e a certeza de
um futuro glorioso me fotografando em meio a “Infinitos Particulares” e afins...
Eu só sabia esperar.
Era mágico pertencer ao último “sonho de verão”, me
percebendo o personagem principal da minha história de vida real.
Mas eu não era nada, tinha todas as certezas de um menino
que compreendia a vida segundo o pouco que vivera até ali, e eu sei que teria
sido assim, e estaria assim, se ainda estivesse lá e optado pela garota de olhos
claros e de sonhos carnavalescos.
No momento exato que embarquei para fora do Brasil e de mim,
eu mudei. A vida me mostrou uma outra face dela, e eu, criança do mundo, com
toda a inocência de um Peter Pan de faz-de-contas, tive que crescer e deixar de
viver de mentira.
Me tiraram o tempo, a fantasia se perdeu no espaço e minhas
ilusões foram reduzidas a pó.
E eu fiquei triste, o que mais podia ser?
Mas depois de muito tempo camuflado nas sombras frias de
madrugadas em claro, passei a existir para entender o propósito maior de ser um
artista, que era o de não ser nada daquilo.
De entender e aceitar, de uma vez por todas, a responsabilidade
de ser o que eu sou.
E agora eu estou voltando...
Irônico, dizem que a gente só sabe o quanto estava perdido quando
volta pra casa. Eu não sei, só queria sentir o tempo em mim de novo, as ilusões
de uma vida tranquila, meu primeiro livro, talvez outro que possa nascer dessa calma toda, algumas horas dedicadas a antigas paixões
mundanas e, por fim, o reencontro com personagens especiais dessa minha vida até
aqui.
Mas o fato é: conseguirei voltar a ser quem eu era antes, mesmo tendo mudado tanto? Estarei
livre do peso de existir de quatro anos para cá, ou essa existência me
amaldiçoou e para sempre estarei fadado a escuridão de não peretencer a nada e
nem a ninguém?
Busco a resposta na nostalgia de tempos que se foram, onde supostamente eu devo chegar. Será que eu mudei apenas para me tornar uma pessoa mais triste do que eu já era antes?
Pelo sim ou pelo não, estas são as regras do meu
jogo agora, e eu preciso aprender a conviver com elas...